J’ai tout jeté par la fenêtre.
En compagnie du langage
je suis resté, et le monde s’élucide.
De la mer j’ai gardé l’onde meilleure
qui est moins changeante que l’amour.
Et de la vie, j’ai gardé la douleur
de tous ceux qui souffrent.
Je suis un homme qui a tout perdu,
mais qui a créé la réalité,
brasier d’images, dépôt
de choses qui jamais n’explosent.
De tout je désire l’essentiel :
l’aqueduc d’une ville,
la route du littoral,
le reflux d’un mot.
Loin des cieux, même des cieux proches,
et près des confins de la terre,
me voici. Ma chanson
affronte l’hiver, elle existe concrètement.
Mon coeur bat
sa chanson du plus grand amour.
Il bat pour toute l’ humanité,
en vérité je ne suis pas seul.
Je puis maintenant me faire comprendre
et je sais que le monde est très grand.
Par la main, les mots me conduisent
à des géographies absolues.
*
Canto grande
Não tenho mais canções de amor.
Joguei tudo pela janela.
Em companhia da linguagem
fiquei, e o mundo se elucida.
Do mar guardei a melhor onda
que é menos móvel que o amor.
E da vida, guardei a dor
de todos os que estão sofrendo.
Sou um homem que perdeu tudo
mas criou a realidade,
fogueira de imagens, depósito
de coisas que jamais explodem.
De tudo quero o essencial:
o aqueduto de uma cidade,
rodovia do litoral,
o refluxo de uma palavra.
Longe dos céus, mesmo dos próximos,
e perto dos confins da terra,
aqui estou. Minha canção
enfrenta o inverno, é de concreto.
Meu coração está batendo
sua canção de amor maior.
Bate por toda a humanidade,
em verdade não estou só.
Posso agora comunicar-me
e sei que o mundo é muito grande.
Pela mão, levam-me as palavras
a geografias absolutas.
***
Lêdo Ivo (1924–2012) – Poesia Completa: 1940-2004 (Topbooks, 2004) – Poèmes brésiliens . In: Équivalences, 3e année-n°3, 1972 – Traduit du portugais (Brésil) par Robert Massart.