Eugénio De Andrade – Chaque chose (Cada coisa, 1995)

Par Stéphane Chabrières @schabrieres

Chaque chose a sa fulgurance,
sa musique.
Dans l’orange mûre chante le soleil,
dans la neige le merle bleu.
Pas seulement les choses,
les animaux mêmes
brillent d’une lumière tendre ;
quand l’hiver s’approche de leurs yeux
la transparence des étoiles
devient source de leur respiration.
Ce n’est qu’ainsi
qu’ils perdurent.
De même, le coeur.

*

Cada coisa tem o seu fulgor,
a sua música.
Na laranja madura canta o sol,
na neve o melro azul.
Não só as coisas,
os próprios animais
brilham de uma luz acariciada;
quando o inverno
se aproxima dos seus olhos
a transparência das estrelas
torna-se fonte da sua respiração.
Só isso faz
com que durem ainda.
Assim o coração.

***

Eugénio De Andrade (1923–2005)Le sel de la langue (O sal da língua, 1995)