La continuelle obscurité devient clarté
irisation flamme
qui incendie le cœur de celui dont la tâche
est d’écrire et de regarder le monde à partir des ténèbres
humblement
voilà le travail auquel tu as été prédestiné
vivre et mourir
dans ce simulacre d’enfer
mon dieu !
j’ai dû choisir la meilleure manière de brûler
jusqu’à ce que de moi il ne reste plus qu’un os
et une demi-douzaine de syllabes sales
calcinées
*
a contínua escuridão torna-se claridade
iridescência lume
que incendeia o coração daquele cujo ofício
é escrever e olhar o mundo a partir da treva
humildemente
foi este o trabalho que te predestinaram
viver e morrer
nesse simulacro de inferno
meu deus!
tinha de escolher a melhor maneira de arder
até que de mim nada restasse senão um osso
e meia dúzia de sílabas sujas
calcinadas
***
Al Berto (1948—1997) – Trois Lettres de la mémoire des Indes (Três Cartas da Memória das Índias, 1985) – Traduit du portugais par Gabrielle Yriarte