La fin approche.
Et je suis triste de finir ainsi,
Ruine humaine,
Et non nature consumée.
Invalide de corps
Et l’âme percluse.
Mort en tous mes organes et mes sens.
Long fut le chemin et démesurés
Les songes que j’y ai faits.
Mais nul ne vit
Contre les lois du destin.
Et le destin n’a pas voulu
Que je m’accomplisse comme j’ai lutté,
Que je tombe debout, dans un défi.
Heureux fleuve qui part dans la mer
Se jeter,
Et, en un large océan, éterniser
Sa splendeur torrentielle de fleuve.
*
Aproxima-se o fim.
E tenho pena de acabar assim,
Em vez de natureza consumada,
Ruína humana.
Inválido do corpo
E tolhido da alma.
Morto em todos os órgãos e sentidos.
Longo foi o caminho e desmedidos
Os sonhos que nele tive.
Mas ninguém vive
Contra as leis do destino.
E o destino não quis
Que eu me cumprisse como porfiei,
E caísse de pé, num desafio.
Rio feliz a ir de encontro ao mar
Desaguar,
E, em largo oceano, eternizar
O seu esplendor torrencial de rio.
***
Miguel Torga (1907-1995) – Diário XVI (1994) – Coimbra, 10 Décembre 1993 – Traduit du portugais par Michel Chandeigne