Durante muitos anos acertando e errando, mais errando do que acertando, descubro quanto importante é o aprendizado de tantas ações que redundaram, após muito esforço, em nenhum resultado prático, financeiro ou outro.
Muitos, assim como nós e outros tantos, necessitamos errar, para que nunca mais venhamos a cometer o desvario de fazer novamente a mesma ação que se logrou prejuízo. Disse-nos Plutarco: "O ser humano não pode deixar de cometer erros; é com os erros, que os homens de bom senso aprendem a sabedoria para o futuro”, ou em outras palavras: ‘Errar é Humano, persistir no erro é burrice’.
Ou, como a filosofia Grega nos ensina, em todos os milênios, os mitos e sapiências dos povos cultos do mediterrâneo nos mostram o caminho, mas como é "grego que falam e escrevem" e mesmo traduzidos acabamos não entendendo aqueles ensinamentos.
Pois numa destas lendas de milênios atrás, está 'O trabalho de Sísifo'.
Conta o mito, que Sísifo havia sido condenado pelos deuses a realização de um trabalho inútil e sem esperança de mudança por toda a eternidade: teria ele de empurrar sem descanso uma enorme pedra até o alto de uma montanha, a partir da qual ela rolaria encosta abaixo para que o herói mitológico descesse em seguida até o sopé e a empurrasse novamente até ao cimo, e assim indefinidamente, numa repetição monótona e interminável através dos tempos.
No atual momento que vivemos, agimos como Sísifo e acabamos considerando o emprego um inferno 'de Sísifo', pois a trágica condenação de estar empregado em algo que 'a nada conduz', realizando um trabalho sem esperança de crescimento, acabará frustrando a si e a todos.
Albert Camus, em O Mito de Sísifo 'ensaio sobre o absurdo', assim descreve a cena mitológica que não nos abandona, mesmo com o passar dos anos:
"Deixo Sísifo no sopé da montanha! Encontramos sempre o nosso fardo. Mas Sísifo ensina a fidelidade superior que nega os deuses e levanta os rochedos. Ele também julga que tudo está bem. Esse universo enfim sem dono não lhe parece estéril nem fútil. Cada grão dessa pedra cada estilhaço mineral dessa montanha cheia de noite, forma por si só um mundo. A própria luta para atingir os píncaros basta para encher um coração de homem. É preciso imaginar Sísifo feliz."
E assim, feliz nos encontramos nos milênios adiante, quando nos defrontamos com enormes pedras sempre sendo empurradas 'lomba acima', para em seguida despencar 'lomba abaixo', e novamente a saga de empurrar as pedras 'do caminho', nos mostram o quanto estamos atrasados em nosso desenvolvimento.
E quando digo isso, não é apenas o desenvolvimento econômico que cresce e decresce na mesma velocidade, é o aspecto cultural na vida daqueles que como Sísifo, carregaram a Pedra da Cultura, da Política, durante anos, e agora ninguém mais se habilita a empurrar o fardo e fazer a juventude de hoje entender a diferença entre as 'pedras', pois umas delas acabará esmagando aqueles que se atrevem a carregá-la e não vencerão jamais seu destino.
Está faltando cultura, educação, lazer, conhecimento, cidadania, amor a sabedoria e uma fé que seja, mas o que assistimos boquiabertos via caixinhas televisivas é a total inversão de valores, sendo que leis são criadas para que removam símbolos da fé cristã das salas de aula; não se discutam mais as filosofias das políticas e da cidadania; não se professem mais idéias religiosas capazes de 're-ligar' uma sociedade carente de esperança e de ação para combater o mal.
É como a Pedra de Sísifo que carregamos no dia-a-dia e não percebemos o quanto nos é pesado este fardo, por mais absurdo que seja ainda acreditamos que iremos vencer, sempre!
Júlio Wandam