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Camané à la Philharmonie 3

Publié le 03 février 2010 par Paulo Lobo
Camané à la Philharmonie 3
Camané à la Philharmonie 3
Camané à la Philharmonie 3

Article publié dans le journal CONTACTO du 3 février 2010

Fado intimista para 1200 espectadores

No princípio do concerto, Camané cumprimenta o auditório e declara, num francês inseguro : "J'espère que vous aimerez mon Fado", uma frase aparentemente anódina mas que na realidade aponta para a singularidade do fado de Camané, pensativo, rigoroso, complexo, contrastando com os modos mais extrovertidos da Mariza, por exemplo, da Cristina Branco ou da Mafalda Arnauth. Ao contrário destas divas, Camané nao diz quase nada entre cada cançao. Pouca explicaçao, poucos gracejos, pouca dramaturgia e pose, Camané comunica através da subtileza e intensidade que dá a cada tema. Por outro lado, nunca canta temas já cantados por outros, concentra-se quase exclusivamente no repertório próprio que é constituído por fados especialmente preparados para ele, no caso deste concerto, quase todos tirados do último álbum "Sempre de mim". Com poucas melodias imediatamente reconhecíveis, o público pode sentir em certos momentos que está em terreno desconhecido, mas esta intransigência e recusa de artifícios sao caracteristicas do modo como Camané consegue dar vida e sentido às palavras e aos versos. À qualidade da interpretaçao, à voz e ao canto inconfundíveis, junta-se a humildade e simplicidade no palco, e o público acaba por se render a esta maneira única de cantar o fado.  

O concerto na Philharmonie, apesar de 1200 pessoas na sala, foi envolto num ambiente intimista e reconfortante, sendo evidente a cumplicidade de Camané com os músicos que desde sempre o acompanham: José Manuel Neto na guitarra portuguesa, Carlos Manuel Proença na viola clássica e Paulo Paz no contrabaixo.

Os três instrumentistas proporcionaram texturas sonoras lindíssimas sobre as quais a voz de Camané poisava com enlevo e delicadeza.

Muitos foram os momentos belos e emocionantes da noite, para registo mencionamos os temas "Triste sorte" (o fado cravo de Alfredo Marceneiro), as "Asas fechadas", um duo magistral entre voz e guitarra portuguesa para um fado interpretado originalmente por Amália Rodrigues, e o tenebroso e quase esquizofrénico "Ser aquele", baseado num poema de Fernando Pessoa, um tema que deu lugar à cena mais fulgurante da noite : Camané sentado numa extremidade do palco, a sua voz e figura extinguindo-se pouco a pouco na penumbra... "se estou só, quero nao estar, se nao estou, quero estar só...".

O concerto foi concluido com três encores, debaixo dos aplausos entusiasmados dos espectadores: "Ciúmes da saudade" e "Saudades trago comigo" ("Eu tenho um sonho doirado. Sonho que a minha alma quer. É morrer cantando o fado. Nos braços de uma mulher"), "A cantar é que te deixas levar" e "A minha rua", e finalmente o sublime "Sei de um rio" (poema de Pedro Homem de Melo e música de Alain Oulman).

Após o concerto, Camané muito gentilmente participou numa sessao de autógrafos, trocando palavras com dezenas de admiradores de várias nacionalidades.


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